Experiências
Experiências
Experiências e tentativas de criação.
Desde minha formação em cinema, venho fazendo experiências com fotografia, vídeo e palavras. Ao longo dos anos, acumulei esses experimentos que desejo mostrar aqui.
Desde o início, é importante enfatizar meu grande interesse por fotografias antigas dos arquivos pessoais da minha família. Entretanto, não fico presa a essa (quase) obsessão. Meus esforços criativos vão além disso, na tentativa de preencher uma necessidade que é sentida na vida cotidiana.
Quando os navios não partem nem chegam
Vídeo, 2020, 9 minutos
Baseando-se em um trecho de um poema do poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade, viajo pelos arquivos pessoais de minha família.
Em uma tentativa de preencher a lacuna na narrativa familiar, busco recuperar narrativas que foram esquecidas. O parque de diversões itinerante de meus avós aparece como ponto de partida para minha pesquisa. Aqui, vou em busca desse arquivo para fazer um vídeo no qual reúno fragmentos recuperados.
Os deslocamentos realizados constituem a busca de uma narrativa para o que não tem história conhecida. Reúno as peças (vídeo, áudio, fotografia e texto) à minha disposição e mergulho no esquecimento. À medida que as ondas rolam, quase à deriva, percorro esse caminho pessoal enquanto procuro escapar dessa busca interminável.
Verão 83
Vídeo, 2019, 1'09''
Sem título
Vídeo, 2020, 2'08''
A partir de fotografias antigas de família, aventurei-me com o guache.
Entre aqui e lá
Série de fotografias
A minha grande curiosidade por fotografias antigas da minha família está, em parte, ligada aos estranhos se misturam com os conhecidos, encontro que acontece no antiga lata de biscoitos onde ficam essas fotos. Ao selecionar as imagens, percebo que minha família, aquela que conheço, é a mais presente. Quando olho para uma fotografia antiga de família, como a dos meus avós por exemplo, não significa que estou próximo deles. É a sobreposição destas antigas fotografias de família com as minhas fotografias recentes que me aproxima destas pessoas, conhecidas e desconhecidas: imagino os meus avós a passear em Paris ao meu lado; vejo meus tios e primos brincando em uma praia que surge na capital francesa; vejo minha mãe de biquíni, mesmo que seja inverno, porque ela sente falta do calor; observo minha avó, elegante e séria; e estranhos do Brasil, sem nome, olham para mim, assim como aqueles caminhantes que encontro em Montmartre.
Acredito que o processo criativo desse trabalho começou muito antes que eu pudesse perceber. Minha curiosidade por fotos antigas de família e meu interesse pelas pessoas nessas fotos vem de muito longe e ele me empurrou, de certa forma, para encontrar maneiras pelas quais eu poderia me expressar artisticamente. Depois de alguma experimentação, a sobreposição é o que mais me chamou a atenção, e é este processo que utilizo no meu projeto "Entre aqui e lá". As produções de "Entre aqui e lá" são meus sonhos, essa é a definição que convém o melhor. Estes são meus sonhos misturados, desordenados, confusos. De alguma forma, esta é a minha confusão refletida.
Sem título
Colagem fotográfica
Pensando em narrativas e deslocamentos, experimentei outra produção com a ideia de fazer um filme que não existe. Tentei fazer um tipo de sobreposição que mais parece uma colagem. Com uma fotografia que fiz, inseri duas fotografias antigas de família para criar um novo contexto. Decidi adicionar legendas em uma tentativa de produzir o quadro de um filme. As imagens do meu presente que se encontram com os arquivos antigos criam um possível cross-fade. É na busca de uma narrativa que essas imagens parecem compor um cenário que ainda não foi escrito, mas que existe por causa das relações entre as imagens. Assim, tentei realizar visualmente - materialmente - algo que pudesse se parecer com isso.
O que está por trás: jogos narrativos
Montagem fotográfica
Penso em uma fotografia de família. Reconheço minha mãe, eu a vejo nessa foto que tenho em minhas mãos. Ela está na praia em uma cidade que não conheço, mas sobre a qual já ouvi muitas histórias. Minha mãe é mostrada, ela está diante de meus olhos, mas a fotografia evoca a imagem dessa cidade que construí em minha imaginação. A imagem fotográfica faz um jogo duplo?
A partir dessa reflexão - bastante simplista -, eu passo à ação. Coletei algumas fotografias. Nesse jogo duplo de "mostrar e evocar", selecionei fragmentos de algumas fotografias e as combinei. Cada fragmento mostra um pedaço de fotografias não relacionadas. Sua nova associação evoca uma narrativa que não havia sido apresentada antes. A associação de fotografias dispersas e reinterpretadas torna possível esse jogo duplo. Tento evocar uma história com essas imagens que originalmente não têm nada a ver umas com as outras.
Também estou penso no cinema. Essa arte que nos apresenta as relações de diferentes sequências de imagens e provoca uma narrativa no espectador. Pode-se dizer também que o jogo duplo aqui é a representação palpável da fotografia e a mental, que ocorre na imaginação de cada pessoa.
As conexões entre esses vários fragmentos são formadas inconscientemente no espectador e o jogo duplo é construído por essas conexões que não existiam antes. Ao alterar a ordem das sequências ou a ordem dos fragmentos dentro da mesma sequência, podemos evocar novas narrativas no espectador e, assim, reproduzir o jogo duplo mais uma vez.
Fragmentos de movimentos
Um álbum de polaróides imaginárias através do Google Street View
Alguns dos lugares que mais gostaria de visitar não estão disponíveis no google Street View, como Cuba, Argélia ou Irã. Decidi realizar um caminho afetivo e produzir uma série de fotografias através de fragmentos (re)encontrados.
Mas quais fragmentos?
Faz mais de quatro anos que eu não moro no Brasil. Antes de mudar de continente, mudei algumas (várias) vezes no mesmo país. Com uma polaróide imaginária, parti em viagem através do Street View com a intenção de reencontrar aquilo que me é - ou foi - conhecido.
Para cada cidade, no máximo dois cliques, duas fotos, duas lembranças guardadas.
Pelas ruas esburacadas da minha cidade natal, transito por lugares que vagamente me lembro. Lembro-me de detalhes: os buracos, a terra vermelha, uma cidade sem cuidado mas onde eu encontrava muito cuidado numa pequena casa com pé de manga no quintal.
Da casa de meus avós em Ourinhos, interior de São Paulo, com bolacha passatempo recheada no fundo do armário da cozinha, decidi pegar o trem porque Ourinhos não traz lembranças queridas além da casa com a bela árvore na frente. No meio do caminho, um grupo de garotos pronto para soltar pipa - como eu fazia com meu primo - me encarou. Perguntei se poderia fotografá-los. Após o clique, perguntei sobre o trem: onde poderia pegá-lo?
O velho trem ainda estava lá, cheio de carga ou de gente que dali deseja fugir?